segunda-feira, 27 de junho de 2011

true

    uma vez magoada, duas vezes mais fria.

Quase dezesseis anos. Façam as contas.

terça-feira, 14 de junho de 2011




Mesmo assim eu não esquecia dele. Em parte porque seria impossível esquecê-lo, em parte também, principalmente, porque não desejava isso. É verdade, eu o amava. Não com esse amor de carne, de querer tocá-lo e possuí-lo e saber coisas de dentro dele. Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali.
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Letter I Never Sent

Eu já me decidi.
Tomar uma atitude e começar a escrever essa carta, não foi fácil, vou te dizer: durante dois anos eu procurei motivos pra voltar e pra não voltar e nessa brincadeira de eu-não-sei-se-decido-ir-ou-ficar, eu simplesmente deixei pra lá, não foi difícil. Adiar decisões é algo que eu faço muito bem. E de repente, alguém me arrancou desse falso esquecimento da situação e me disse assim:
 Ele sente a sua falta também, só que depois de todo esse tempo, é mais fácil não mexer em coisas antigas. Você entende não é?
Eu entendi, porque era exatamente o que eu estava fazendo. E eu senti que eu tinha que fazer alguma coisa naquele mesmo minuto. E fiz.
Um pedido, duas ligações, e tudo certo: Uma viagem marcada pra sexta-feira próxima. Me senti aliviada, e então joguei a cabeça para trás, olhei por céu e ri. Lembrei de mil coisas, de todas as risadas, lágrimas, e promessas... tudo que a gente viveu. Eu provavelmente vivi mais naqueles 9 dias do que em um ano aqui. Mas, agora era real: eu estava voltando.
Os dias passaram rápidos, quando eu vi, já estava dentro daquele carro com vidros escuros e destino certo. Eu não conseguia acreditar. Eu estava a apenas algumas horas de te abraçar.
Comecei então a desafogar lembranças e mais lembranças. Conversas que eu tinha prometido nunca mais me lembrar e ali estava eu, remoendo todas. E aí, sem mais nem menos, cheguei.
Cheguei! andei até a mesma casa, conversei com as mesmas pessoas, comprei meu tic-tac na mesma padaria, voltei para a mesma casa, dormi na mesma cama que costumava dormir.
Acordei, levantei e olhei a janela, ainda estava escuro. Voltei para de baixo das cobertas. E comecei a pensar no que não poderia acontecer hoje. Eu tenho que assumir para mim mesma que gosto de você, e talvez alguma coisa se faça real. Senti uma vontade imensa de chorar, por mim, por você por tudo que poderia ter sido e não foi. Mas não chorei.
Sábado a noite chegou, e eu poderia ter tomado um porre enquanto dançava com as meninas no palco, rido de piadas idiotas de madrugada, tirado fotos que se tornariam épicas. E não fiz nenhuma dessas coisas.

Fiquei sentada com você, com um sorriso no rosto, conversando baixinho, segurando as mãos, com a sua blusa xadrez cobrindo minhas costas nuas porque estava frio, tendo a certeza absoluta que aquela estava sendo uma noite que eu não esqueceria, nunca mais. E ai veio domingo, e uma despedida.
Chorei, chorei baixinho pra ninguém perceber, pra que talvez quando eu dormisse, simplesmente esquecesse de tudo aquilo.
Só sei que agora eu sinto uma saudade infinita do seu abraço e do seu sorriso. Uma falta incontável da sua presença. E sei que você não sente o mesmo. Isso me mata.
Precisei reunir muita coragem pra escrever essa carta, e escrevi aos poucos, durante cada ação que fiz e recebi nesse fim de semana, e agora sei que não vou enviá-la porque, de que adianta? nada vai mudar, nada pode mudar.

domingo, 12 de junho de 2011

Disritmia

Lá fora, tudo bem.
Aqui dentro, nem tanto.
Eu sou fria e pela metade. É, totalmente pela metade. Tem alguma coisa faltando e eu nunca sei dizer o que é. 
Lá fora, tudo bem. 
Aqui dentro está faltando.
Não é sempre que eu sinto, mas sinto e quando sinto, dói. 
Lá fora, um sorriso lindo, longos cabelos penteados e olhos bem maquiados.
Aqui dentro, frio e caos, uma saudade imensa de alguma coisa ou alguém e uma tendência-louca-suicida de fugir.
Duas realidades diferentes, duas pessoas diferentes.
E ninguém percebe.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

What a mistake

Errar. Basta um descuido e você vê, tudo o que você tinha, cultivou e guardou por certo tempo, ir por água abaixo.
Mas esse não é mais um texto sobre como "errar é humano". É um texto sobre o depois. Escrito por uma pessoa que já passou por muitos erros, e seus depois. Por experiência própria, posso lhe dizer, caro leitor, que a pior parte é quando você toma consciência de que todo mundo já sabe, já viu, e está comentando seu erro. A conseqüência, tantas vezes, nem é tão devastadora quanto a imediata sensação de que tudo e todos lhe condenam. Nessa hora, você vê quem está de fato do seu lado. Não precisa de quase nada. Apenas um consolo-mudo. Um abraço. É extremamente necessário, segura mundos. A unica dica que eu tenho para vocês é: Isso passa, tudo passa. Clichê não é? Eu sei. Mas, nós, seres humanos errantes, somos clichês ambulantes. Sou só mais um deles.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Engenheiro das Mágoas.

 CAPÍTULO I - KAUAN

 Passava das 17 horas, o ponto de ônibus estava praticamente vazio - por mais incrível que isso pareça - e eu ainda teria que voltar para casa, e sair de novo, ir pra escola. É uma rotina complicada, os horários apertados, mas, eu gosto. Gosto mesmo. Naquele momento, estava pensando em tantas coisas, completamente aleatórias, mergulhado em um mundo separado daquele em que realmente me encontrava e então um cheiro bem conhecido por mim, arrancou-me dos devaneios. Olhei rapidamente para os lados. As mesmas pessoas de antes. Uma senhora estranha, baixinha e com semblante taciturno. Um rapaz novo, escondido atrás de grossas lentes de um óculos aparentemente antigo. E eu.
 Então, de onde vinha aquele perfume tão inebriante? Não sabia. Apenas lembrei de que era o cheiro dela. Aquele perfume que ela usava quando a beijei pela última vez. Ela não imaginava que era a última vez, eu, pelo contrário, já sabia. Nunca quis magoá-la. E foi exatamente o que eu fiz. Sem intenção, claro. Na verdade, não posso exatamente explicar como tudo aconteceu, porque.. eu também não sei.
 De longe, pude ver o ônibus vindo, e quando parou, vi que estava cheio. Fui o último a entrar, mapeei com olhos, e vi um lugar vazio, num dos últimos bancos. Coloquei os fones de ouvido, e andei em direção ao lugar. Chegando mais perto, senti aquele mesmo perfume de antes. Olhei atentamente para a garota, e fiquei surpreso quando notei, era ela. Sentei ao lado dela. Ela não tinha me visto ainda, estava absorta em algum livro que estava lendo. Chamei-a.
- Manuella?
Ela olhou para o lado distraída, e ao me reconhecer, riu. Eu ri também. Fechando o livro que estava em suas mãos, tirou os fones de ouvido e girou o corpo em minha direção.
- Kauan! Quanto tempo. - Disse ela surpresa.
- Sim, sim, tempo demais.
 Nos minutos seguintes, a conversa simplesmente fluiu. Coisas rotineiras, conversas de velhos amigos que há muito não se encontravam. Porém, o silêncio logo se instalou. Eu sabia que ela desceria logo, então, falei a primeira coisa que veio na minha mente. Deveria ter ficado quieto.
- Manu, me desculpe.
 Ela riu.
- Desculpar, pelo que?
- Por tudo aquilo, que eu fiz.. sabe, ano passado.
- Quer saber? Eu já desculpei você. - Ela sorriu, como se lembrasse de algo, e um segundo depois desfez o sorriso, com o mesmo encantamento de sempre - Desculpei você no dia em que você me disse: Hoje vou te fazer chorar. Depois de - literalmente - levar a sério o que você falou, percebi que você só fez isso porque tinha medo. Medo de ser feliz. Você afasta as pessoas que querem o seu bem.
 Tive meio minuto antes de responder, meio minuto pra lembrar de tudo, e pensar em algo.
- Eu acho que você tem razão. Deixei tudo desaparecer. Joguei tudo pro alto, queria ver o que sobrava. Hoje, sei que só sobrou amor. Mas, lá, naquela época eu não sabia.
 Ela olhou pra mim como se nunca tivesse me visto antes. A surpresa era tal, que ela ficou em silêncio por um, ou dois minutos antes de falar novamente.
- Eu desço aqui.
- Eu queria muito poder falar - vou com você - ou, - te ligo mais tarde pra resolver isso - mas não vou me atrever a falar nenhuma delas, porque já te causei muito dano.
Ela me fitava com aqueles grandes e dissimulados olhos pretos. Os olhos dela me diziam uma coisa, a boca outra. Totalmente divergentes.
- Sabe Kauan, não vou falar que não esperava essa atitude de você. Eu só achei que você já tivesse perdido esse medo, essa vergonha de se expor e falar o que quer. Mas me enganei. Não vai ser aqui, nem agora, nem comigo. Tudo bem. Até..
 Ela desceu, eu fiquei pensando nas palavras dela. Me doeram, porque eram verdades que eu nunca quis admitir. Ela estava certa, eu precisava tomar uma atitude. E me ocorreu algo que eu poderia, mas não deveria fazer. As palavras dela ecoaram na minha mente novamente.. Olhei para trás, ela estava andando, ainda perto. Tive o impulso de saltar do ônibus e correr atrás dela. Mas eu não fui.



O Engenheiro das Mágoas apresenta, dois personagens, e uma história que surgiram de conversas no MSN, numa espécie de "parceria" minha com um amigo. Cada capítulo será descrito por um ponto de vista.  As histórias e ambos os personagens são fictícios, e qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência.