segunda-feira, 2 de maio de 2011

obsession

PARTE III

Eu não vou atender, eu não preciso atender. - Repetia para si mesma como uma espécie de mantra. O celular continuava tocando, e a cada toque, ela se sentia pior.
Pegou-o delicadamente, e segurou com as duas mãos, e de repente, parou de tocar. Scarllet se assustou com o silêncio repentino, porém, que não durou muito. Logo voltou a tocar. Dessa vez, com o número tantas vezes discado e já tão conhecido, e aquela foto que ela tanto gostava. Olhou com carinho para a tela, tomou fôlego, e atendeu.

- Tudo bem André, o que você quer? - Tentou soar o mais calma possível, e para sua própria surpresa estava conseguindo.
- Não fale assim comigo, Anne, eu tenho tanta coisa pra te falar, tanto pra te compensar. Não queria ter ido dessa vez, mas foi necessário. - Sua voz saiu meio baixa, quase triste.
- Com isso, não há porque se preocupar, não precisa me compensar, muito menos, me dar algum tipo de explicação, pois agora, eu não quero mais te ver. Quer saber? Eu precisava de você, e você sumiu.
- Eu sei... Eu sei, e eu te imploro agora. Me deixa compensar isso. - De fato, ele soava realmente triste.
- Está bem... Então é o seguinte, eu vou desligar o telefone em menos de um minuto, e não me importo com o que você fará daqui pra frente, já está na hora de alguém mais sofrer nessa história além de mim. - Ia continuar falando, porém André a interrompeu.
- Então é assim? Você vai fazer isso do modo mais difícil? - O tom já passara de triste para ameaçador. - Querendo você ou não, eu vou achar um jeito de ver você, e falar com você, hoje a noite.
 Scarllet ria. E na outra linha, era só silêncio.
- Você acha que eu estou brincando? - Ele estava sério, e ela ainda ria. - Então... Que coincidência, você sabe que eu adoro quando você usa essa camiseta cinza, que tem o dobro do seu tamanho. A minha camiseta cinza.
O riso parou imediatamente.
- Como você sabe o que eu estou usando? - Perguntou, enquanto olhava para os lados.
- Huum, consegui chamar sua atenção, princesa do gelo? - Deu uma risada forçada - Sua janela está aberta há horas.
Scarllet suspirou aliviada. E logo após lhe ocorreu uma idéia que não lhe agradava.
- Você está me observando a quanto tempo? - Com a voz já trêmula.
- Algo em torno de... duas semanas. - Disse, com a maior calma.
- O que? - Scarllet gritou - Duas semanas? Você me observa escondido, pela janela do meu quarto, há duas semanas? Eu deveria chamar a policia, seu.. seu... aaargh.
 Fechou as cortinas, sentou na cama, correu a mão pelo cabelo.
- E por acaso vai? Você não tem coragem Anne, você não vai fazer nada. É isso, te conheço melhor que você mesma. - Vangloriou-se em tom presunçoso.
Ainda com a cabeça girando, sem saber o que fazer, tomou uma decisão de última hora. Desligou o celular, e o jogou na cama, abriu o guarda-roupas e pegou uma mochila qualquer, a primeira que viu. Pegou o uniforme que usaria amanhã de manhã na escola, correu para o banheiro, pegou sua escova de dentes, uma necessaire com maquiagens, guardou na bolsa e voltou ao guarda-roupa, pegou uma lingerie, uma saia preta, e uma blusa verde com muito brilho, as costas nuas. Vestiu um jeans e uma regata que estavam jogados na gaveta. Pegou o celular, que ainda tocava, com a foto de André na tela. E sua carteira. Recolheu o material na cama, e pegou o caderno e uma caneta. Era só o que precisava.
 Desceu as escadas, e no último degrau viu seus saltos altos de camurça preto, e pensou. Esse mesmo. Calçou os chinelos, e foi para a cozinha.
- Mãe, vou para a casa do Sofia agora, tudo bem? Aconteceram algumas coisas, e ela precisa de mim, durmo lá, volto amanhã depois da escola. Amo você.
- Hum, sim filha, mande um beijo para ela.
 Já na porta da frente, gritou um ''tchau'' para o pai, que não teve nem tempo de responder, e ela já estava nos degraus de fora.
 Estava escuro, calor, um brisa gostosa. Olhou em volta, não viu absolutamente ninguém. Onde será que estaria ele?
 Começou a andar, ia para a casa de Sofia, sua melhor amiga, apenas 15 minutos dali. Pegou o celular na bolsa. Discou o numero dela. Chamou uma vez, e ela antendeu.
- Eai menina. - Um tom alegre estava presente.
- Sofi, ele apareceu de novo! tenho tanto coisa pra te contar, preciso sair daqui, dançar, beber, diz que vai comigo, por favor. - As palavras saíram muito rápidas, e confusas. Como ela estava naquele momento.
- Claro, e eu lá recuso uma festa? Vem pra cá!
- Ok, daqui a pouco estou ai.
Apertou o passo, e quase correndo já podia ver a rua da amiga. A rua era mal iluminada, e isso lhe colocou um pouco de receio. E se ele estivesse me seguindo? Ele seria capaz de me machucar?
 Ela já via a casa, as luzes estavam acesas, e podia se ouvir a televisão ligada. Sofia mora com seu irmão, e isso permite a ela ter uma liberdade maior, os pais faleceram em um acidente de carro quando ela era pequena, ela não lembra muito, mais sente falta deles. As duas se conheceram na escola, nos primeiros dias de aula. A amizade foi praticamente instantânea.
 Bateu a porta, dois segundos mais tarde, Sofia já estava abrindo e Scarllet entrando, cumprimentou Fábio, irmão de Sofia e as foram em direção ao quarto.
 - Então Scarllet, pra onde vamos?
- O de sempre? - Deu uma risadinha marota.
- Pode apostar que sim. Mas.. agora me conte, enquanto nos arrumamos, o que aconteceu com você e o André.
 Enquanto se arrumavam, Scarllet contou o desenrolar de sua tarde e começo de noite. Sofia já sabia de toda história, desde o real começo, e as primeiras vezes que ele sumiu e reapareceu. Mas essa de perseguição, e ficar observando era nova, e sim, um pouco assustador
 Duas horas depois, as duas já prontas, saíram. A noite estava apenas começando, e elas iriam voltar apenas ao amanhecer, pouco antes do horário da escola, para trocar de roupa. Noites como essa eram até frequentes demais para as duas adolescentes de 16 anos. Essa era a forma que elas encontraram de se divertir, e esquecer um pouco dos problemas.
 O clube que elas iam era o mesmo, todas as vezes. A música já podia ser escutada metros longe, e as luzes faziam um ambiente fantástico e quase imaginário, onde más decisões se transformavam em boas histórias.
 A fila estava grande, mas as duas eram amigas do segurança, e logo que ele as viu, acenou e estava liberando a entrada para poderem passar. Mas no meio da escuridão, alguém puxou Scarllet pelo braço, e praticamente a arrastou para um canto. Sofia assustou-se, mas logo sabia quem era e o que estava acontecendo, correu em direção da amiga, que também já estava bem ciente de quem se tratava.
- André, me larga agora. - Gritou. - O que você pensa que está fazendo?
 A expressão no seu rosto, Scarllet nunca havia notado antes, era raiva pura, uma mágoa, ressentimento.
- A gente tem que conversar. - Sua voz era dura, como se soubesse que aquela frase não poderia ser contestada.
Scarllet olhou para a amiga e fez sinal para que entrasse, gritou, dizendo que ia logo depois dela. Sofia concordou, ainda receosa, entrou.
-  Você pode soltar meu braço agora? Você está me machucando. - Meio incomodada com a situação, mais ainda não assustada.
- Claro meu amor, mas hoje você vem comigo. 

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