terça-feira, 7 de junho de 2011

O Engenheiro das Mágoas.

 CAPÍTULO I - KAUAN

 Passava das 17 horas, o ponto de ônibus estava praticamente vazio - por mais incrível que isso pareça - e eu ainda teria que voltar para casa, e sair de novo, ir pra escola. É uma rotina complicada, os horários apertados, mas, eu gosto. Gosto mesmo. Naquele momento, estava pensando em tantas coisas, completamente aleatórias, mergulhado em um mundo separado daquele em que realmente me encontrava e então um cheiro bem conhecido por mim, arrancou-me dos devaneios. Olhei rapidamente para os lados. As mesmas pessoas de antes. Uma senhora estranha, baixinha e com semblante taciturno. Um rapaz novo, escondido atrás de grossas lentes de um óculos aparentemente antigo. E eu.
 Então, de onde vinha aquele perfume tão inebriante? Não sabia. Apenas lembrei de que era o cheiro dela. Aquele perfume que ela usava quando a beijei pela última vez. Ela não imaginava que era a última vez, eu, pelo contrário, já sabia. Nunca quis magoá-la. E foi exatamente o que eu fiz. Sem intenção, claro. Na verdade, não posso exatamente explicar como tudo aconteceu, porque.. eu também não sei.
 De longe, pude ver o ônibus vindo, e quando parou, vi que estava cheio. Fui o último a entrar, mapeei com olhos, e vi um lugar vazio, num dos últimos bancos. Coloquei os fones de ouvido, e andei em direção ao lugar. Chegando mais perto, senti aquele mesmo perfume de antes. Olhei atentamente para a garota, e fiquei surpreso quando notei, era ela. Sentei ao lado dela. Ela não tinha me visto ainda, estava absorta em algum livro que estava lendo. Chamei-a.
- Manuella?
Ela olhou para o lado distraída, e ao me reconhecer, riu. Eu ri também. Fechando o livro que estava em suas mãos, tirou os fones de ouvido e girou o corpo em minha direção.
- Kauan! Quanto tempo. - Disse ela surpresa.
- Sim, sim, tempo demais.
 Nos minutos seguintes, a conversa simplesmente fluiu. Coisas rotineiras, conversas de velhos amigos que há muito não se encontravam. Porém, o silêncio logo se instalou. Eu sabia que ela desceria logo, então, falei a primeira coisa que veio na minha mente. Deveria ter ficado quieto.
- Manu, me desculpe.
 Ela riu.
- Desculpar, pelo que?
- Por tudo aquilo, que eu fiz.. sabe, ano passado.
- Quer saber? Eu já desculpei você. - Ela sorriu, como se lembrasse de algo, e um segundo depois desfez o sorriso, com o mesmo encantamento de sempre - Desculpei você no dia em que você me disse: Hoje vou te fazer chorar. Depois de - literalmente - levar a sério o que você falou, percebi que você só fez isso porque tinha medo. Medo de ser feliz. Você afasta as pessoas que querem o seu bem.
 Tive meio minuto antes de responder, meio minuto pra lembrar de tudo, e pensar em algo.
- Eu acho que você tem razão. Deixei tudo desaparecer. Joguei tudo pro alto, queria ver o que sobrava. Hoje, sei que só sobrou amor. Mas, lá, naquela época eu não sabia.
 Ela olhou pra mim como se nunca tivesse me visto antes. A surpresa era tal, que ela ficou em silêncio por um, ou dois minutos antes de falar novamente.
- Eu desço aqui.
- Eu queria muito poder falar - vou com você - ou, - te ligo mais tarde pra resolver isso - mas não vou me atrever a falar nenhuma delas, porque já te causei muito dano.
Ela me fitava com aqueles grandes e dissimulados olhos pretos. Os olhos dela me diziam uma coisa, a boca outra. Totalmente divergentes.
- Sabe Kauan, não vou falar que não esperava essa atitude de você. Eu só achei que você já tivesse perdido esse medo, essa vergonha de se expor e falar o que quer. Mas me enganei. Não vai ser aqui, nem agora, nem comigo. Tudo bem. Até..
 Ela desceu, eu fiquei pensando nas palavras dela. Me doeram, porque eram verdades que eu nunca quis admitir. Ela estava certa, eu precisava tomar uma atitude. E me ocorreu algo que eu poderia, mas não deveria fazer. As palavras dela ecoaram na minha mente novamente.. Olhei para trás, ela estava andando, ainda perto. Tive o impulso de saltar do ônibus e correr atrás dela. Mas eu não fui.



O Engenheiro das Mágoas apresenta, dois personagens, e uma história que surgiram de conversas no MSN, numa espécie de "parceria" minha com um amigo. Cada capítulo será descrito por um ponto de vista.  As histórias e ambos os personagens são fictícios, e qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência. 

Um comentário:

T. disse...

ótima historia mais será que essa historia é mesmo ficticia?