terça-feira, 5 de abril de 2011

*primeiro segredo.

Eu ainda tenho esperança de conseguir uma explicação. Uma decente.

O telefone tocou. Ela saiu voando da sala até seu quarto para atender, olhou rapidamente a tela, esperando que fosse ele.
Não era.
Resolveu nem atender, deixou lá, tocando.
Tocou uma, duas, três vezes. Na quarta se levantou do sofá novamente, e andou lentamente até o quarto na esperança que nesse meio tempo ele parasse de tocar.
Não parou, nem precisava olhar para a tela e ver a foto sua e de sua melhor amiga para saber que era ela que ligava.
- Fala.
- Você não sai de casa há pelo menos dois dias, vem pra cá vai, ta todo mundo aqui!
- Todo mundo, quem?
- Mentira, nem tem muita gente, mesmo assim, vem pra cá, se divertir um pouco.
- Lugar de sempre?
- Claro.
- Chego ai em 10 minutos.
Ela colocou o primeiro jeans que pegou, e escolheu uma blusa três quartos decotada lilás que adorava, calçou suas botas e saiu.
A praça não era muito longe de sua casa, ficava apenas a algumas quadras de distancia, seus amigos tinham costume de se reunir lá, de tarde, de noite, nunca importava o horário. Ela andou rápido pra espantar o frio e quando menos esperou já estava lá, cercada de pessoas conhecidas, algumas muito queridas, outras nem tanto.
Ficou lá pouco mais de uma hora, conversou, riu, pode falar até que se divertiu, mas era hora de voltar.
Já passava das 22:00 e o frio ficava cada vez pior.
Ofereceram carona, ela recusou. Queria voltar pra casa andando, dia seguinte acordaria cedo, mas mesmo assim, resolveu ir andando.
Pensava em tudo. Pensava em nada.
Uma confusão de palavras, pensamentos, lembranças, amores, desamores.
Mas logo percebeu algo estranho, a estava rua vazia aquela hora, exceto por...
Ela conhecia aquela blusa, se lembrava extremamente bem, sabia de onde lembrava, quem a usava, e porque gostava tanto dela.
Seu coração acelerou, mil pensamentos passaram por sua mente, nenhum que fizesse sentido aquela hora da noite e depois de tanto álcool.
Não pode ser ele, afinal, o que ele estaria fazendo aqui, sozinho á essa hora, em plena quinta feira? – pensou, alto demais talvez.
- Na verdade, sou eu sim. Simplesmente achei estranho ver você saindo de casa.
As únicas palavras que passavam na mente dela agora eram: que merda ele ta falando?
Vendo a sua expressão confusa, ele tentou explicar.
- Me mudei para o apartamento em frente ao seu, do outro lado da rua, o mesmo andar e por isso consigo ver você pelas janelas de vidro do seu apartamento, e percebi que não sai faz um tempo.
Ela ainda estava completamente sem reação. Sua boca estava semi aberta, passou pela sua mente que deveria comprar cortinas, e se isso fosse um desenho animado, pontos de interrogação estariam sobre sua cabeça
- Deve estar pensando porque fiquei tanto tempo sem ligar não é? Quero dizer, não que eu deveria ligar após tudo o que aconteceu, mas eu sempre ligo, eu sempre volto.
Ela apenas acenou com a cabeça para cima e para baixo, concordando. Estava tentando prestar no que ele dizia, mais era difícil, enquanto viajava em seus devaneios e memórias.
- Eu via seu desespero quando escutava o telefone tocar, pelo menos achei que era o telefone. Você estava tranqüila lendo um livro, e de repente jogava o livro pra um lado, saia correndo até seu quarto, parava em frente á cama, ás vezes sentava, fitando a parede. Outras vezes pegava o celular e jogava de volta na cama.
Ela parecia mais calma agora, porém ainda estava a mil, tentando assimilar toda a situação, que ainda parecia muito confusa.
Ele andou em sua direção com passos rápidos, segurou em seus ombros e a empurrou sem dó para a parede que separava uma loja de doces de uma casa.
Ela sentiu seu perfume, que lhe fazia recordar boas lembranças, sentiu seu hálito quente perto do rosto, ainda era o mesmo chiclete de menta, sentiu também sua mão passando por seus cabelos de um jeito que só ele sabia fazer, de um jeito que ela ficava sem defesas.
Passou os lábios no seu pescoço, subindo para sua orelha, do jeito que sempre fez. E ela se arrepiou, como sempre acontecia.
Ela podia muito bem ter falado não, se afastado, virado o rosto. Mais ela queria, ela queria isso tanto quanto ele.
De fato, eles não sabiam como tinham começado algo, só sabiam que tinha começado.
E nem souberam quando terminou. Talvez ainda não tenha terminado.





Um comentário:

Anônimo disse...

lindo texto effy, boa sorte com a explicação.